quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Carta de Nietzche para Lou Salomé

Cara Lou,

(...) Tens em mim o maior defensor, mas também o mais impiedoso juiz... De volta a Orta, decidira revelar toda a minha filosofia a ti. Oh! Não tens idéia do vulto dessa decisão: acreditei que não podia ter presenteado melhor a ninguém...
Naquela época, eu tendia a considerar-te uma visão e manifestação do meu ideal terreno. Por favor, observa que tenho uma péssima visão!
Penso que ninguém consegue pensar melhor em ti, mas tampouco pior.
Caso tivesse te criado, conceder-te-ia melhor saúde e muito além daquilo que é bem mais valioso... e talvez um pouco mais de amor por mim (embora isto não tenha a menor importância) e o mesmo se daria com o amigo Rée. Nem contigo nem com ele consigo proferir uma só palavra sobre questões de meu coração. Imagino que não tens idéia do que desejo? – mas este silêncio forçado é quase sufocante, porque gosto de vocês.

FN


*Carta de Frederich Nietzche para Lou Salomé de dezembro de 1882


Gibran à sua amada Mary Haskell

Eu fui tocado pela sua presença desde a primeira vez que a vi; (...) e na medida que conversávamos, sentia-me melhor e melhor. Quando fui pela primeira vez até a sua casa, senti que a atmosfera do lugar - os livros, a maneira de arrumar a casa - tinha uma profunda identificação comigo. Gostei da maneira como conversamos, e do jeito suave com que você me fez falar de mim mesmo.
Você fez muitas perguntas, e algumas vezes me senti encabulado; mas, graças ao seu espírito e inteligência, terminei contando tudo que queria saber.
As outras pessoas me acham interessante. Elas gostam de me ver falar, porque eu sou uma pessoa diferente. (...)Você, entretanto, foi capaz de arrancar o que havia de profundo em mim, sentimentos que raramente compartilhei com alguém. Isto foi ótimo -e continua sendo.
(...)Fui a Paris, sempre tendo ao meu lado a sua imagem, sua fé, e sua ternura.(...)Mesmo com você distante, sua presença me acompanhava por ruas, praças, e cafés.
Então eu lhe pedi em casamento. A partir deste dia, você começou a ferir-me. E continuou me ferindo(...)
Eu precisava me proteger, e passei a dizer a mim mesmo: “qualquer relação mais íntima com esta mulher é impossível.”. Claro que esta estratégia não funcionou, nem mesmo quando eu lhe disse o que acontecia comigo.
(...)Tudo que estou contando, é apenas para que saiba como vi os nossos primeiros anos juntos. As coisas mais profundas jamais mudaram; a identificação que tive, o reconhecimento, a paixão do primeiro encontro - tudo isto continua igual, e assim continuará para sempre. Eu a amarei por toda a eternidade, como já a amava muito antes de vê-la pela primeira vez, e chamo isto de Destino.
Nada pode nos afastar; nem eu, nem você podemos mudar esta relação. Eu quero que você se lembre pelo resto dos seus dias, que você é a pessoa mais importante do meu mundo. Que, mesmo que você casasse sete vezes, com sete homens diferentes, tudo continuaria igual em meu coração...

Kahlil Gibran

*Trechos de uma carta do acervo da correspondência (1908-1924) trocada entre Kahlil Gibran e Mary Haskell